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Considerações sociológicas

A produção do conhecimento sociológico

Nas Ciências Sociais, entre o pesquisador (sociólogo,
antropólogo ou cientista político) e seu objeto (as relações REPRODUÇÃO
e estruturas sociais, a cultura, os sistemas políticos) cir-
culam inúmeras interpretações e práticas sociais. As rea-
lidades que os cientistas sociais se propõem a desvendar
estão inseridas em um contexto social mais amplo, para
além do pesquisador. O conhecimento sociológico é sem-
pre resultado de uma combinação entre o modo como os
fenômenos sociais se apresentam e a perspectiva pela qual
o cientista os observa. Cabe ao pesquisador descobrir as
contradições presentes nos discursos e nas práticas dos
diversos grupos, deslocando-se dos fenômenos sociais
para os sociológicos. Ao fazer esse deslocamento, o so-
ciólogo problematiza o que observa, fazendo um recorte
da realidade social.
Como sujeito do conhecimento, esse cientista tem seus
próprios valores e suas próprias ideias, que antecedem a
pesquisa e condicionam a escolha do objeto e o problema
a ser investigado. O pesquisador define os objetivos a se-
rem alcançados e o modo como será realizada a pesquisa
(metodologia).
Segundo Octavio Ianni, na Sociologia, assim como nas
outras Ciências Sociais, as condições de existência dos
cientistas são componentes fundamentais de suas atividades. Dessa maneira, ao Cartaz de campanha Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
escolher estudar determinado aspecto da realidade social, o pesquisador sempre pelo fim da violência
o fará com base na perspectiva de seu tempo e de seu lugar na sociedade. contra os jovens, de
2008. As pesquisas
Hoje, as questões relativas à vida cotidiana – como crime, gênero, sociabilidade, sociológicas
juventude, envelhecimento, violência doméstica, religiosidade, saúde e afetividade colaboram para o
– são tratadas pelas Ciências Sociais, e os avanços desses estudos tendem a sub- conhecimento e
sidiar políticas públicas ou mesmo o debate na sociedade, mediante veículos de as propostas de
superação de
divulgação científica que influenciam e enriquecem o senso comum, tornando-o diferentes problemas
mais crítico. Para exemplificar o que foi dito, podemos citar a pesquisa Homicídios sociais.
e Juventude no Brasil, publicada em 2013 pelo governo federal.
Nessa pesquisa, constatou-se que os homicídios são a principal causa de morte
entre jovens de 15 a 24 anos no país e vitimam principalmente jovens negros e
pobres. Coordenado pelo sociólogo Julio Waiselfisz e tendo como base dados esta-
tísticos de diversos órgãos, o estudo comprovou que os índices de violência contra
a juventude brasileira continuam crescendo e atingindo proporções alarmantes
quando se analisa a população de jovens negros e afrodescendentes.
Uma das constatações da pesquisa é que, enquanto a taxa de mortalidade da
população brasileira caiu entre 1980 e 2011 em 3,5%, a taxa de mortalidade dos
jovens por causas externas cresceu 28% no mesmo período. O principal aumento foi
na taxa de homicídios, que cresceu 132,1%. Ainda de acordo com essas estatísticas,
o percentual de homicídios na população branca diminuiu em 26,4% entre 2002 e
2011, enquanto na população negra esse índice aumentou em 30,6%.
Com base nesses dados, os órgãos governamentais podem elaborar políticas
públicas de redução da violência contra a juventude, ao mesmo tempo que os
movimentos sociais podem se organizar para criar estratégias de enfrentamento
dessa situação, de modo que seja possível reduzir as taxas de violência homicida
contra a juventude pobre e negra das grandes metrópoles.


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