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Se para compreender as novas questões sociais é indispensável entender a estrutura
do sistema capitalista em seu estágio atual no Brasil e no mundo, também é necessário Livro
um olhar mais próximo da sociabilidade cotidiana. O sociólogo Luiz Antônio Machado LIMA BARRETO,
Afonso Henriques de.
da Silva é uma referência nesse campo, com seus estudos sobre os diferentes aspectos Triste fim de
da sociabilidade urbana brasileira desde 1970, a respeito dos quais interpreta manifes- Policarpo Quaresma.
tações tão diversas quanto os movimentos sociais, os botequins, o jogo do bicho e o São Paulo: Penguin-Com-
comércio informal. panhia, 2011.
Os objetivos, as causas, a compreensão das pessoas sobre suas ações e as in- O livro narra a trajetória
fluências sociais a que estão submetidas podem ser investigados nessas situações, do major Quaresma, na-
que, apesar de parecerem banais, revelam aspectos importantes do modo como se cionalista que enfrenta
faz política em nossa sociedade; dos códigos de comportamento que determinam dificuldades na busca por
o que se julga certo ou errado e dos rituais em que se depositam as esperanças ou soluções para os problemas
da jovem república. O fra-
pelos quais extravasamos nossas frustrações. Na atualidade, a violência urbana nas casso dos ideais culturais,
grandes cidades ganhou aspectos singulares de difícil explicação, mas que podem ser econômicos e revolucioná-
mais bem compreendidos com base em interpretações sociológicas como as de Luiz rios do protagonista coloca
Antônio Machado da Silva. Para ele, uma nova maneira de interação estabeleceu-se em choque a necessidade
nas grandes cidades, traduzida pelo conceito de sociabilidade violenta, articulada do conhecimento da rea-
lidade frente aos sonhos
não apenas com a representação social da criminalidade, mas também com a segre- voluntaristas para trans-
gação socioespacial. formação social.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Os objetos contemporâneos estudados pelas Ciências Sociais não se esgotam nesses
temas. Podemos partir de uma questão como o desemprego e descobrir temas tão impor-
tantes como a divisão internacional do trabalho, as condições de saúde do trabalhador,
as políticas de previdência social e habitação popular, a cultura da periferia e suas mani-
festações artísticas, assim como as características da violência na cidade e a distribuição
das ações criminosas entre os bairros.
Uma vontade de saber inesgotável e uma insatisfação com conclusões prontas ou
apressadas conduzem o cientista social, por meio de diferentes métodos, a construir
interpretações que revelam fenômenos inacessíveis ao espectador casual. O valor dessas
interpretações pode ser apropriado pelo senso comum, que se torna mais esclarecido, ou
ser utilizado por técnicos e políticos para apresentar soluções objetivas para problemas
específicos. Ele serve ainda como referência para futuras pesquisas de outros cientistas,
para que aprofundem ou mesmo refutem, quando for o caso, seu trabalho. E essa é a
razão de ser da prática científica enquanto durar a curiosidade humana. Assim avançam
as Ciências Sociais.
A extrema violência nas
cidades atualmente deu
origem a uma forma de
interação que o sociólogo
GUSTAVO MAGNUSSON/ FOTOARENA da Silva chama de
Luiz Antônio Machado
“sociabilidade violenta”,
relacionada também com a
segregação socioespacial.
Na imagem, ônibus
queimado em Campinas
(SP), em setembro de 2014.
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