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Quem escreveu sobre isso Paulo Freire
CLÓVIS CRANCHI SOBRINHO/AGÊNCIA ESTADO Educador e filósofo pernambucano (1921-1997), revo-
lucionou a educação ao criar uma pedagogia eman-
cipadora, na qual o educando se liberta das visões
naturalizadas pelas classes dominantes e constrói
seu aprendizado utilizando a realidade de seu pró-
prio contexto. Em Pedagogia da autonomia, Freire
defende que o conhecimento que o educando traz
para a escola deve ser respeitado e orientado para
que ele possa produzir uma interpretação crítica e
não alienante do mundo em que vive.
Paulo Freire propôs uma nova visão sobre a
educação, que valorizava as práticas culturais
e os saberes populares.
Essa percepção de ciência e senso comum como formas complementares de co-
nhecimento também pode ser encontrada na obra de Paulo Freire. Segundo ele, não
há produção de conhecimento sem que haja conexão entre o sujeito que o produz e
sua realidade social. Isso significa que o senso comum determina o alcance e o tipo
de conhecimento produzido. Contrapondo-se ao Positivismo, Freire defende que o
conhecimento da realidade acontece com base no modo como os indivíduos explicam
o mundo em seu cotidiano e na valorização do saber popular – uma das modalidades Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Filme
do senso comum.
O óleo de Lorenzo Segundo essa visão, todo conhecimento científico teria por objetivo converter-se em
REPRODUÇÃO senso comum. Assim, em um tempo no qual a ciência se tornasse popular, o senso co-
mum também passaria a adquirir novo caráter, mais crítico e menos receptivo a verdades
prontas que não apresentassem fundamentos racionais e objetivos para serem validados.
Nesse sentido, ciência e senso comum seriam percebidos como complementares.
Por exemplo, a classe burguesa que liderou a Revolução Francesa para depor o rei
absolutista e proclamar uma república não aceitou a premissa religiosa que orientava
o senso comum, segundo a qual os reis governavam por direito divino. Ao argumentar
que os homens eram todos iguais e que seria impossível provar que Deus escolhera um
em detrimento dos demais para governar, o pensamento liberal burguês proclamava
que os próprios cidadãos deveriam decidir, por critérios definidos por eles mesmos,
quem seria o governante.
Estados Unidos, 1992.
Direção: George Miller. Antes, o senso comum aceitava que os reis fossem coroados por ordem divina; hoje
Duração: 136 min. ele rejeita essa hipótese, que durante séculos teve valor de verdade. Nas sociedades de-
Aos seis anos, Loren- mocráticas ocidentais, acredita-se que o voto confere legitimidade ao governante pelo
zo recebe o diagnóstico período estipulado para seu mandato. A difusão dessa concepção pelo mundo tem sido
de adrenoleucodistrofia a base para questionar governos ditatoriais em diferentes épocas e lugares.
(ALD), doença rara que
atinge o cérebro e leva Mais recentemente, eventos ligados à chamada Primavera Árabe – um conjunto de
à morte. Desenganados movimentos sociais que atingiu vários países árabes a partir de 2011 – serviram para
pelos médicos, seus pais questionar um poder solidamente estabelecido e que até então não se mostrava passível
passam a questionar a de ser questionado. Embora na maior parte dos casos não se tenha alcançado um estado
ciência médica tradicional
e a buscar alternativas que de liberdades democráticas nesses países, houve o questionamento efetivo da situação,
sejam capazes de impedir com consequências que tornaram irreversível o retorno completo ao estado de coisas
o avanço da doença. anterior à eclosão desses protestos.
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